sexta-feira, 20 de outubro de 2017

Restaurante Abadia e os Makavenkos

Livro de Anísio Franco: Lisboa Desconhecida & Insólita,
Porto Editora, 2017
Club dos Makavenkos
Sala de refeições onde se reuniam os Makavenkos
Entrada para o "telúrico" espaço da Abadia
Palácio Foz, Restauradores, Lisboa
Eu a transbordar de alegria
Naquela chaminé faziam-se os oníricos banquetes
O poço [iniciático] do restaurante Abadia, sempre com água
Pormenores do restaurante Abadia
Os Makavenkos?
Vamos jantar?

Finalmente, graças ao lançamento do mais recente livro de Anísio Franco: Lisboa Insólita & Desconhecida - que recomendo vivamente a sua leitura -, que ocorreu no dia 19 de Outubro de 2017 no Palácio Foz, pude conhecer a célebre Abadia, restaurante subterrâneo do sumptuoso Palácio, onde se reuniam os famosos Makavenkos. Fiquei emocionado e estarrecido. Que espaço incrível. 

Informem-se junto do Palácio Foz, em Lisboa, e não percam uma das visitas guiadas mensais que ali se realizam.

"Em Abril de 1917 foi inaugurado no velho edifício do Palácio Castelo Melhor, então propriedade dos condes de Sucena, um estabelecimento denominado "Pastelaria Foz", propriedade da firma Leitão & Cª. O salão de Pastelaria, que já não existe, era uma pastiche concebida ao estilo de Luís XV e rocaille, por Viriato da Silva, e com a colaboração do escultor José Neto. Ocupava diversas dependências do andar térreo e também uma cave secreta, nela está guardada uma jóia da cidade de Lisboa, o "Restaurante Abadia", lugar de reuniões da maçonaria - "Os Makavenkos".

Reinando ainda D. Luís I, o Clube dos Makavenkos foi fundado em 1884 por 13 sócios (rapidamente subindo de número chegando ter mais de 100 filiados) cuja principal ocupação aparente não passaria da comensal e boémia: o prazer da boa mesa, da “alegre rapioqueira” e a compensação dos “pecados” com actos de benemerência. Todos eram iguais perante a sopa, o copo e as makavenkas, e nenhum podia namoriscar com a mesma por mais de 15 dias. Findo esse período, ela seria declarada “praça aberta” e ele, se insistisse, levava o título de “lamechas” e a intimidação para pôr fim ao relacionamento em 24 horas. Nisto ficou famoso o makavenko Santos Joya, que exercia “extraordinário poder magnético sobre as mulheres, convidando-as às dezenas para os jantares”, e por essa razão já merecera “as honras dum festim à romana e respectiva coroa de louros, para se lhe exaltar as suas qualidades de macho”. Quando ele não aparecia, faltavam “damas e melhores exemplares da raça luso-espanhola” que “abrilhantassem a encantadora festa, porque as flores animadas são sempre bem cabidas e apreciadas”. Foi o próprio Francisco Grandella quem fundou o clube, e o seu presidente honorário, depois de 1898, foi Ferreira do Amaral, e após a sua morte o cargo foi ocupado pelo dr. Azevedo Neves. Em Lisboa, “quando começaram (os makavenkos) iniciaram as suas reuniões em Santa Isabel, no palacete do Conde das Antas, no quintal onde se achavam vários animais, denominado Parque Zoológico, (…) que às sextas-feiras jantavam no dito parque”. Todavia, os makavenkos não deixaram de saltitar por outras casas e restaurantes, até que Francisco Grandella comprou o terreno do velho Teatro Condes e mandou reconstruir este em 1888, reservando a cave para implantar a sede makavenkal (que a partir de 1916 seria partilhada com a Abadia, do outro lado da avenida). Apesar de levemente ligada à dramaturgia, não obstante a cave do Condes vulgarmente enchia-se de autores, actores e actrizes para jantares, festas e banquetes, tendo passado por ele uma boa parte da alta sociedade e da intelectualidade masculina da Lisboa de então, sobretudo nobres com títulos de fancaria comprados a outros titulares arruinados.

Imaginemos o secretismo de entrar neste local de culto original de 1917, quem entra dá de caras com um velho poço onde ainda corre agua, de uma das imensas nascentes lisboetas, este fica localizado num espaço que copia um antigo claustro conventual, de influência manuelina. A restante decoração é feita com dragões, cachos de uvas, pombas, elefantes e muitos outros símbolos com segundos sentidos, entre os quais os bustos de 24 maçons que utilizavam este espaço.a cave, onde ficou instalado um restaurante anexo, a "Abadia". Trata-se de um exemplar demonstrativo da interpretação que os arquitectos e decoradores portugueses então faziam do gosto "belle époque", em que o "revivalismo" de sabor medieval europeu, aparece metamorfoseado na atracção por um manuelino sobrecarregado de formas e repassado de elementos simbolistas.

A Abadia está dividida em três partes - o CLAUSTRUM (com a sua "taberna vínica", conforme se pode ler num dístico em ferro forjado), o REFECTORIUM (inspirado nos claustros do românico cisterciense peninsular) e as "CELAS", pequenas dependências de carácter reservado suspensas sobre o "Claustrum"." - Texto página de Facebook do Palácio Foz.

Para mais leituras: AQUI e AQUI

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